quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A voz do silêncio ((Martha Medeiros))





Pior do que a voz que cala,é um silêncio que fala.Simples, rápido! E quanta força!Imediatamente me veio à cabeça situaçõesem que o silêncio me disse verdades terríveis,pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.Um telefone mudo.

Um e-mail que não chega.Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.Silêncios que falam sobre desinteresse,esquecimento, recusas.


Quantas coisas são ditas na quietude,depois de uma discussão.O perdão não vem, nem um beijo,nem uma gargalhadapara acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável,o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisasque a gente não quer ouvir,pois ao menos as palavras que são ditasindicam uma tentativa de entendimento.


Cordas vocais em funcionamentoarticulam argumentos,expõem suas queixas, jogam limpo.Já o silêncio arquiteta planosque não são compartilhados.Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,ouvimos um dos dois gritar:

"Diz alguma coisa, mas não ficaaí parado me olhando!

"É o silêncio de um, mandando más notíciaspara o desespero do outro.


É claro que há muitas situaçõesem que o silêncio é bem-vindo.

Para um cara que trabalhacom uma britadeira na rua,o silêncio é um bálsamo.Para a professora de uma creche,o silêncio é um presente.

Para os seguranças de um show de rock,o silêncio é um sonho.Mesmo no amor,quando a relação é sólida e madura,o silêncio a dois não incomoda,pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba,é aquele que fala.

E fala alto.

É quando ninguém bate à nossa porta,não há emails na caixa de entradanão há recados na secretária eletrônicae mesmo assim, você entende a mensagem

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