segunda-feira, 1 de julho de 2013

Caminhe na certeza de que os instantes são únicos !!!!!

TAXI LUNAR

Ela me deu o seu amor, eu tomei
No dia 16 de maio, viajei
Espaçonave atropelado, procurei
O meu amor aperreado
Apenas apanhei na beira-mar
Um táxi pra estação lunar
Bela linda criatura, bonita
Nem menina, nem mulher
Tem espelho no seu rosto de neve
Nem menina, nem mulher
Apenas apanhei na beira-mar
Um táxi pra estação lunar
Pela sua cabeleira, vermelha
Pelos raios desse sol, lilás
Pelo fogo do seu corpo, centelha
Belos raios desse sol
Apenas apanhei na beira-mar
Um táxi pra estação lunar

 Toda questão complicada tem uma resposta simples, e ela, invariavelmente, está errada. 
Eu me lembrei dessa velha ironia na segunda-feira, no Rio de Janeiro, quando um rapaz se aproximou durante o lançamento do meu livro e disse que gostaria de fazer uma pergunta. Mesmo antevendo uma situação embaraçosa, eu concordei, e ouvi o seguinte: se eu tivesse de dar um único conselho para ajudá-lo num relacionamento, qual seria? 
Pense no que vocês diriam no meu lugar. Eu, posto na situação sem aviso prévio, respondi sem hesitar: “Preste atenção nela. Tente entendê-la. Descubra o que ela pensa e o que ela sente.” 
O rapaz ensaiou outras perguntas, mas, como havia uma fila atrás dele, a conversa acabou por ali. Ele foi embora, não inteiramente satisfeito, e eu segui dando autógrafos e conversando com as pessoas, meio incomodado – com a pergunta dele, com a minha resposta e com a situação desconhecida do rapaz, que parecia estar precisando de uma luz. O que eu havia dado a ele, afinal: um fósforo, uma vela ou uma lanterna sem pilha? 
 Hoje, passadas mais de 24 horas da conversa, eu ainda não consegui chegar a uma conclusão
Olhar para o outro é o contrário do que nós fazemos a maior parte do tempo. Somos brutalmente egoístas quando se trata de afeto. Estamos preocupados com os nossos desejos e os nossos preconceitos. Nenhuma dessas duas lentes ajuda entender a outra pessoa ou as necessidades dela.   
 A lente dos nossos desejos é óbvia e permanente. Com ela a gente mede o quanto as pessoas nos agradam. Se a gente concorda com o que elas falam, batemos palma. Se elas se comportam como esperamos que façam, celebramos. Se a aparência dela nos excita ou nos deixa contentes, incentivamos. Se elas fazem coisas por nós, gostamos. Se pensam como nós, dizemos que são inteligentes e instruídas. 
É evidente que não estamos lidando com a outra pessoa, mas com nós mesmos. O outro serve apenas de espelho. Estamos procurando nele ou nela apenas as nossas próprias predileções. É um troço bem narcisista. Nada tem a ver com olhar o outro para entender ou aprender alguma coisa. A meu ver, nada tem a ver com amor. É olhar o outro a procura de si mesmo, simplesmente. Um jeito de olhar sem ver. 
Alguém vai dizer que agir assim é inevitável, mas eu diria que não. Ao menos não inteiramente. Todos somos prisioneiros das nossas personalidades e as pessoas que escolhemos para estar ao nosso lado inevitavelmente refletem os nossos desejos. Mas há diferentes graus em que isso acontece. 
Uma das coisas que salta aos olhos nos bons relacionamentos é que dentro deles as pessoas parecem mais inteiras e autônomas. Ninguém está lá servindo de espelho para o ego do outro. Há contradição, diferença, admiração, vida – e atenção de parte a parte. Eu olho para você, que é diferente de mim, e tento compreender, porque quero que você seja feliz. Ajudar você a achar o seu caminho é parte do que me dá prazer. Mas é o seu caminho, não o meu. São as duas ideias, não as minhas. É a sua vida, afinal. 
A outra lente ruim pela qual a gente olha para quem está perto de nos é a do preconceito. Ao olhar para a sua namorada, ou namorado, você pode estar vendo apenas o que outras pessoas andaram dizendo a você a vida inteira: que mulher que se veste de certa forma não serve, que homem que diz certas coisas não presta, que pessoas que se comportam assim ou assado não são legais. Isso não nos ajuda a enxergar. 
A melhor definição de preconceito é o pensamento de outra pessoa dentro de nós, nos impedindo de formar a nossa própria opinião. Antes que você possa emitir seu julgamento, baseado em experiências reais com uma pessoa de verdade, alguém lá dentro de você já passou uma sentença condenatória. Você acaba incomodado com a pessoa que gosta e nem sabe direito por que. Dentro de você, uma multidão de gente anônima olha para ela ou para ele com desconfiança, sem enxergar de fato uma pessoa. Isso é preconceito. 
Juntas, a lente egoísta dos nossos desejos e a lente burra do preconceito nos impedem de ver o outro. Por isso é importante olhar, prestar atenção superar essas camadas de indiferença ou de ignorância que nos impedem de ver. Olhar, claro, não é uma resposta universal e não vai salvar os relacionamentos. Mas talvez ajude a impedir que a gente naufrague em nós mesmos, sem ter a chance real de compartilhar algo com o outro. Nada mais trágico, nada mais triste do que terminar um relacionamento por não conseguir sequer perceber quem realmente estava ali ao lado.
Ivan Martins é editor-executivo da revista Época, autor do livro Alguém especial e escreve em epoca.com.br todas as quartas-feiras 

 Os casais costumam dividir o mundo em nós e eles. Basta uma semana de namoro para que esse forma perversa de cumplicidade comece a se manifestar. Nós somos inteligentes, bem informados, de bom gosto. Eles, ah meus deus, eles são um horror, mesmo quando são nossos amigos queridos. 
Por razões que têm a ver com a política e a economia, a divisão do mundo entre nós e eles tornou-se muito mais profunda que a mera organização psicológica dos casais. Ela dominou a vida social. A maior parte de nós vive nos dias de hoje confinado ao universo do nós - eu e meus amigos, eu e minha garota, eu e minha família - e tem com o resto do mundo uma relação de ignorância ou hostilidade. São eles. 
Aquilo que antigamente se chamava de vida privada tornou-se a única forma de existência. Vamos ao futebol ou aa balada, votamos a cada dois anos, mas vivemos a maior parte do tempo no interior da nossa bolha, onde experimentamos solitariamente as glórias e misérias do cotidiano. A vida pública, momento em que faríamos parte de algo maior do que nós mesmos, não existe. Ou quase. 
Nesta semana, com as manifestações que tomaram as ruas das cidades brasileiras, houve uma espécie de renascimento. O coletivo e o geral atropelaram o particular. Milhares de pessoas deixaram seus problemas pessoais na gaveta e foram marchar por questões públicas, como cidadãos. Com esse pequeno gesto grandioso, revelaram ao país uma forma nobre e esquecida de felicidade, a de participar.  
Quando nós viramos eles e eles viraram nós, foi possível perceber que não somos, afinal, tão diferentes. Com essa descoberta, o círculo de nossas relações se ampliou para incluir um número maior e mais heterogêneo de pessoas. Nosso universo se expandiu, nossa percepção enriqueceu, nos tornamos seres humanos mais interessaentes, e melhores. Além de mais poderosos. Ainda que momentaneamente.  

Nos últimos anos - sejamos sinceros - andávamos obcecados por nossos problemas pessoais. Os amores. O trabalho. A familia. Foi como se o resto não nos dissesse respeito. Ou estivesse fora do nosso alcance. Chegamos a duvidar que aquilo que acontece "lá fora", no mundo da política, fosse capaz de penetrar nossa redoma privada e nos afetar. Mas penetrou e afetou, não? A violência, a pobreza, a injustiça, a corrupção... Aquilo que impede a felicidade de todos de alguma forma atrapalha a felicidade de cada um de nós. Isso aprendemos. 
Talvez possamos, então, recomeçar, agora de um jeito mais equilibrado. 
Somos indivíduos, com nossos sentimentos e nossos problemas, mas também somos parte da multidão. Algumas respostas que buscamos sozinhos talvez possam ser encontradas na companhia de outros. A fraternidade baseada em valores, e não apenas em cerveja, pode aquecer os nossos corações. Talvez ela seja um contraponto a certa afetividade triste que se multiplica por aí, na forma de amores sem esperança. O que não falta na rua é esperança: muita angústia se perde na confusão das passeatas e nunca mais é encontrada; muita dor de cotovelo desaparece. O mundo coletivo oferece novas emoções. Por que não abraçá-las? 
Da minha parte, tenho me lembrado, diariamente, de um verso de Carlos Drummond de Andrade em Canção Amiga: "Minha vida, nossas vidas, formam um só diamante". É isso. Como podemos nos dividir em nós e eles se fazemos parte de um todo eterno e cintilante? 
Ivan Martins é editor-executivo da revista Época, autor do livro Alguém especial e escreve em epoca.com.br todas as quartas-feiras 

 Com o perdão do lugar comum, o que fica da vida são os momentos. 
Outro dia eu estava com ela numa loja de roupas femininas, sentado pacientemente no meu canto, quando começou a tocar, nos alto-falantes, a música Georgia, cantada por Ray Charles. É talvez o blues mais triste e mais bonito que já foi composto. Enquanto os primeiros acordes da canção enchiam a loja, ela saiu do mostrador com um vestido lindo, sorrindo, e meu coração se encheu de ternura. Algo me diz que vou lembrar daquele instante pelo resto da vida. 
Hoje, quando muita gente celebra o Dia dos Namorados, lembrei de um amigo que é o mestre dos momentos, o Oscar Niemeyer das ocasiões especiais. Ele é capaz de transformar qualquer situação num momento inesquecível. Sem esforço aparente, e com imensa eficiência, planeja datas como a de hoje para que se transformem em pérolas na memória da mulher que ele ama.
Às vezes ele organiza uma viagem em segredo, outras vezes aparece com um presente inesperado, frequentemente prepara surpresas domésticas - um jantar, um café da manhã, um maço de flores - para sinalizar que ele se lembra, para mostrar que a presença dela é importante, para deixar claro, claríssimo, que ainda pensa nela apaixonadamente, e que os sentimentos por ela não se tornaram apenas parte da mobília.   Diante desse amigo, eu só posso sentir inveja. 

Assim como boa parte dos homens e das mulheres que conheço, não consigo ser assim organizado. Ou dedicado. Ou talvez a palavra certa seja abnegado. Olhar para o outro com essa intensidade, depois do período de paixão, exige separar-se de si mesmo, dos seus desejos e problemas, e dar prioridade a quem está ao lado. É preciso ser uma pessoa profundamente generosa para colocar-se dessa forma no mundo.  
Quando se trata de momentos especiais, e quando se trata de amor em geral, poucos de nós são arquitetos cuidadosos. A maioria se divide em outras duas categorias de pessoas - os improvisadores e os que realmente não ligam. 
Os improvisadores vivem o momento sem planejá-lo. Deixam que o outro entre na vida deles ( e entram na vida do outro), sem reflexão e sem cerimônia. Ao entusiasmo dos primeiros dias vai se sucedendo uma relação tranquila, em que o improvisador absorve o outro sem pensar demais no assunto. Não há grandes marcos na vida a dois. Os gestos dramáticos estão ausentes. 
Se você quer uma celebração no Dia dos Namorados, vai ter de organizar sozinha. Com esse tipo de gente, os momentos especiais nascem de forma espontânea - arroubos, conversas, gestos impensados, grandes noites que começaram com uma gargalhada na cozinha. Os improvisadores acham feio preparar ocasiões sentimentais. Eles surfam o momento de maneira entusiasmada, mas não são bons em construí-lo. Nem gostam. Há um certo egoísmo neles, algum cinismo, certa preguiça. 
Os que não ligam são gente ainda mais difícil. 
Com eles não vai ter romance no Dia dos Namorados. Ela, aliás, detesta a data. Fica esquisita no dia do seu próprio aniversário. Essas situações, essas formalidades, claramente a angustiam. 
Os que não ligam têm os seus próprios critérios sobre o que é importante, e eles não se confundem com as convenções. Os gestos de amor são íntimos e não se apresentam de uma forma óbvia. Convidá-lo para ficar e dormir na cama dela pode ser um passo enorme. Pegar a sua mão na rua pode demonstrar envolvimento. Uma madrugada, no balcão da lanchonete, ela pode falar sobre a relação difícil com o pai dela, sobre quem nunca dissera uma palavra. Como se diz para uma mulher dessas que você a ama e quer viver com ela? Suponho que não seja com um jantar e um anel de brilhantes. 
O que se faz com essas diferenças? 
Depende. Esta noite, por ser Dia dos Namorados, você pode jantar num lugar romântico ou transar no sofá depois de pedir comida chinesa. Também pode ir ao cinema ignorando a comoção artificial. Depende de quem você é. Depende da pessoa que você escolheu. Vocês planejam, improvisam ou ignoram esses momentos? Aquilo que nos faz feliz é nosso direito, e varia. 
Mesmo se você estiver sozinha - ou sozinho - não sucumba. Lembre que o Dia dos Namorados é apenas uma conversa de românticos patrocinada pela associação dos lojistas. Há outros 364 dias no ano em que tudo pode acontecer. Amanhã a vida pode recomeçar, amanhã você pode descobrir alguém, amanhã pode mudar de emprego, mudar de cidade, mudar de ideia ou, quem sabe, mudar de parceiro ou de parceira. Por que não? 
Ivan Martins é editor-executivo da revista Época, autor do livro Alguém especial e escreve em epoca.com.br todas as quartas-feiras